Incidências do processo de separação na clínica psicanalítica da criança e do adolescente
Octavio Almeida de Souza
O processo de separação entre o eu e o outro está ativo desde o início da vida psíquica e pode ser compreendido de um modo amplo como o processo que preside o caminho do sujeito desde a dependência absoluta até a progressiva aquisição da independência que se desdobra ao longo de toda a vida adulta. Em um sentido mais estrito, este processo ocupa uma posição mais específica nas etapas do desenvolvimento que acontecem entre o narcisismo primário e o complexo de Édipo. As dificuldades encontradas em cada uma destas etapas estão na origem das diversas patologias verificadas na clínica.
No acolhimento ambulatorial em psicoterapia infantil, as queixas relativas às dificuldades de separação são muito freqüentes. A partir da anamnese psicológica, observa-se que os sinais manifestos de angústia de separação se encontram associados a uma grande variedade de sintomas, tais como, distúrbios do sono, distúrbios da alimentação, dificuldades no aprendizado, descontrole esfincteriano, fobias, doenças psicossomáticas e todo tipo de dificuldades na área comportamental. Mesmo quando, a partir da adolescência os sinais manifestos de angústia de separação tendem a desaparecer, as consequências de suas falhas permanecem ativas nas manifestações psicopatológicas como os ataques de pânico, as fobias de todos os tipos, os distúrbios comportamentais da adolescência e da vida adulta e os distúrbios psicossomáticos. Por isso, ao lado dos sinais manifestos da angústia de separação, também devem ser considerados os processos defensivos e identificatórios de natureza inconsciente, adotados frente à angústia de separação. Estes processos se tornam perceptíveis apenas no setting psicanalítico, a partir da relação transferencial, pela via da interpretação e da análise da contratransferência.
Frente a esta dinâmica, a presente pesquisa se propõe investigar a relação entre os processos de separação, seus fracassos e o surgimento de sintomas psíquicos na infância e na adolescência visando oferecer novos referenciais de tratamento bem como uma compreensão mais ampla desta questão.